Essa foto merece ser repetida pelo simbolismo que ela carrega. Simbolismo que ajuda a entender a natureza política da crise que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Sim, porque não é o Palácio Piratini e a governadora Yeda Crusius que foram atingidos, mas sim o Estado e o seu povo. A revelação dos áudios das conversas de Lair Ferst com Marcelo Cavalcante e de uma parte da denúncia do Ministério Público Federal não trazem nenhum fato novo, poderá dizer alguém. Revelam, na verdade, o que muita gente já sabia e vinha denunciando: há uma organização criminosa, uma quadrilha instalada na estrutura do Estado. E essa quadrilha, além dos acusados de integrá-la diretamente, tem seus aliados e padrinhos políticos. Pelo valor que atribui à sua própria biografia, pelos preceitos éticos que diz seguir, o senador Pedro Simon (PMDB) tem muito o que dizer à sociedade gaúcha. E o seu PMDB, o “velho MDB” como gosta de dizer o senador, também. Afinal de contas, nesta e em outras investigações da Operação Rodin e Solidária pesam graves denúncias sobre importantes lideranças do partido no RS, como Eliseu Padilha, Luis Fernando Zachia, Alceu Moreira e Marco Alba.
O senador Simon e o “velho MDB” devem explicações, não só pela sustentação política dada ao grupo acusado agora de formar uma organização criminosa dentro do Piratini, mas também fato de que parte importante das ações criminosas, segundo as investigações já divulgadas, iniciaram no governo de Germano Rigotto, cujo secretário de Segurança, José Otávio Germano (PP) é peça chave em todo esse processo. O sr. Germano Rigotto, cantado em prosa e verso como “pacificador” do Rio Grande do Sul também deve explicações. E muitas. Há ainda um capítulo midiático a ser explicado em toda essa história. A imensa maioria dos meios de comunicação do Estado guardou total silêncio em relação ao trecho da denúncia do MPF na Operação Rodin que falava da existência de um “braço midiático” na fraude, de jornalistas e veículos que recebiam recursos para defender interesses do grupo acusado de formação de quadrilha. O silêncio sobre esse tema traz consigo um lamentável véu de suspeita que recai igualmente sobre inocentes e culpados.
O senador Simon e o “velho MDB” seguirão abraçados com Yeda? Qual o sentido deste abraço cujo futuro é cada vez mais improvável? Uma política de redução de danos, talvez, trabalhando para impedir que a CPI aprofunde as investigações sobre as conexões entre as operações Rodin e Solidária? Não há aqui nenhuma obsessão persecutória em relação à figura de Simon. A ênfase em sua atuação (e em suas omissões) deve-se ao fato de que ele é um dos principais dirigentes políticos do grupo acusado hoje de envolvimento com ações criminosas no aparelho do Estado. Invocar aos gritos a própria biografia é um discurso absolutamente insuficiente e hipócrita. O tema, aqui, é o da responsabilidade política pelas próprias decisões.
Mas neste cenário sombrio em que foi o mergulhado o orgulhoso Rio Grande do Sul, há um fato positivo: há instituições republicanas que estão funcionando como deveriam. O impacto desse trabalho é diretamente proporcional ao tamanho do grupo político acusado de formar uma quadrilha para assaltar os cofres do Estado. Há outras instituições que devem seguir esse exemplo. Uma delas é a Assembléia Legislativa. Outra é o Tribunal de Contas. Não será tarefa fácil, pois muitos dos acusados lutarão com unhas e dentes para sobreviver politicamente.
Há, é claro, a possibilidade de que todas essas denúncias sejam inverídicas, que todos os acusados sejam inocentes, que as instituições investigatórias sejam irresponsáveis e dementes, que a governadora Yeda Crusius e os seus estejam sendo vítimas de uma grande armação. O problema é que a realidade conspira contra essa possibilidade. A cada dia, fatos velhos, novos e novíssimos batem à nossa porta e apontam sempre na mesma direção: uma organização criminosa tomou de assalto o Estado do Rio Grande do Sul.
Aug 8th, 2009
by Marco Aurélio Weissheimer.
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