Os ratos (versão impressa)
Adão Paiani (*)
O fato novo envolvendo o chefe de Gabinete da governadora do Estado, Ricardo Lied, essa figura que, como outros, move-se nas sombras e escaninhos do poder, como a longa manus de interesses impublicáveis da progenitora maior do Estado, não pode e não deve ser encarado como algo menor. Muito ao contrário, é talvez um dos episódios mais graves ocorridos não apenas nesse governo, que tanto tem se notabilizado pela prática quase diária de atrocidades contra a Justiça, a lei e a cidadania, mas na história recente do Rio Grande.
As circunstâncias de mais esse escabroso caso envolvendo agentes do governo que gravitam em torno de Yeda Rorato Crusius não estão sendo abordadas pela grande mídia com a abrangência que a gravidade do episódio exige. O próprio jornal procurado pelo presidente do Detran, Sérgio Buchmann, para denunciar a tentativa de chantagem e intimidação que recebeu, vem, muito a contragosto, dando um espaço mínimo para o fato e seus articulistas, e outros do mesmo grupo, oscilam entre a timidez da análise, a descaracterização do crime cometido e a falta de argumentos para reconhecer que não tem mais como omitir da opinião pública a verdade dos fatos.
A revelação que Ricardo Lied fez-se acompanhar, em sua “visita” a Buchmann, pelo superintendente dos Serviços Penitenciários, Mário Santa Maria Júnior, é a prova que faltava para chegarmos ao mandante do delito cometido. Conhecendo Santa Maria, quadro do PSDB como Lied, posso assegurar que ele jamais o acompanharia na empreitada se não houvesse recebido ordem superior para isso, emanada diretamente da governadora do Estado, de quem partiu a tentativa de convencer a transigir em seus posicionamentos um técnico comprometido em realizar aquilo que considerava, ao assumir o cargo, interesse do governo: moralizar a autarquia. Nem Lied nem Santa Maria agiram de modo próprio.
A história, já foi dito, acontece primeiro como tragédia e depois como farsa. Ricardo Lied tem tudo para se transformar no “Gregório Fortunato” de Yeda Crusius. Tem a cobertura e a cumplicidade da sua “chefe” para continuar delinquindo, e por isso transita com tanta desenvoltura em locais e situações distantes de suas atribuições. O ambiente para repetição da história está pronto e não faltará uma Rua Toneleiros, um Carlos Lacerda ou um major Vaz para que ela se repita como farsa. Com a substancial diferença de que, ao contrário dos episódios de 1954, esse governo não possui contra si apenas insinuações de um ferrenho opositor, um tribuno exaltado, como Lacerda, mas um conjunto de denúncias e materialidades de crimes de toda a ordem, vindo de dentro da sua própria estrutura. E, certamente, a governadora do Estado está a uma abissal distância da estatura moral de um Vargas. Não esperemos dela qualquer gesto de desprendimento.
A utilização das estruturas de segurança do Estado e de seus mecanismos, pelo atual governo, para exercer chantagem e pressão política tanto contra adversários quanto para seus próprios integrantes, denunciados por mim quando da saída do governo, se alguém ainda tinha alguma dúvida, se comprovou agora. Essa prática, cuja existência tentei levar ao conhecimento da Governadora, levou à minha exoneração. Agora, sabe-se, que ela não apenas conhecia os fatos denunciados, mas fazia e faz uso dessas práticas. Por isso a tentativa inicial de desqualificar minhas denúncias. Por isso a tentativa de, mediante uma sindicância fraudulenta, buscar algo que pudesse colocar em dúvida minha conduta, minha dignidade pessoal e meu caráter.
Seria injusto negar que dentro do governo, e mesmo em sua base política de apoio, existem pessoas com grande qualificação moral, as quais têm evitado que tudo desabe como um castelo de cartas; temeroso de prejuízos à governabilidade, e esse é o seu principal equívoco. A cada dia são sufocados e arrastados pela devassidão dos ratos que se movimentam, abrigados pela impunidade, com cada vez mais desenvoltura. E com eles acabarão perecendo.
Enquanto isso, cercados pela omissão e pelo silêncio de tantos, perguntamos: Quousque tandem abutere, Yeda, patientia nostra?
Até quando?
(*) advogado
Adão Paiani (*)
O fato novo envolvendo o chefe de Gabinete da governadora do Estado, Ricardo Lied, essa figura que, como outros, move-se nas sombras e escaninhos do poder, como a longa manus de interesses impublicáveis da progenitora maior do Estado, não pode e não deve ser encarado como algo menor. Muito ao contrário, é talvez um dos episódios mais graves ocorridos não apenas nesse governo, que tanto tem se notabilizado pela prática quase diária de atrocidades contra a Justiça, a lei e a cidadania, mas na história recente do Rio Grande.
As circunstâncias de mais esse escabroso caso envolvendo agentes do governo que gravitam em torno de Yeda Rorato Crusius não estão sendo abordadas pela grande mídia com a abrangência que a gravidade do episódio exige. O próprio jornal procurado pelo presidente do Detran, Sérgio Buchmann, para denunciar a tentativa de chantagem e intimidação que recebeu, vem, muito a contragosto, dando um espaço mínimo para o fato e seus articulistas, e outros do mesmo grupo, oscilam entre a timidez da análise, a descaracterização do crime cometido e a falta de argumentos para reconhecer que não tem mais como omitir da opinião pública a verdade dos fatos.
A revelação que Ricardo Lied fez-se acompanhar, em sua “visita” a Buchmann, pelo superintendente dos Serviços Penitenciários, Mário Santa Maria Júnior, é a prova que faltava para chegarmos ao mandante do delito cometido. Conhecendo Santa Maria, quadro do PSDB como Lied, posso assegurar que ele jamais o acompanharia na empreitada se não houvesse recebido ordem superior para isso, emanada diretamente da governadora do Estado, de quem partiu a tentativa de convencer a transigir em seus posicionamentos um técnico comprometido em realizar aquilo que considerava, ao assumir o cargo, interesse do governo: moralizar a autarquia. Nem Lied nem Santa Maria agiram de modo próprio.
A história, já foi dito, acontece primeiro como tragédia e depois como farsa. Ricardo Lied tem tudo para se transformar no “Gregório Fortunato” de Yeda Crusius. Tem a cobertura e a cumplicidade da sua “chefe” para continuar delinquindo, e por isso transita com tanta desenvoltura em locais e situações distantes de suas atribuições. O ambiente para repetição da história está pronto e não faltará uma Rua Toneleiros, um Carlos Lacerda ou um major Vaz para que ela se repita como farsa. Com a substancial diferença de que, ao contrário dos episódios de 1954, esse governo não possui contra si apenas insinuações de um ferrenho opositor, um tribuno exaltado, como Lacerda, mas um conjunto de denúncias e materialidades de crimes de toda a ordem, vindo de dentro da sua própria estrutura. E, certamente, a governadora do Estado está a uma abissal distância da estatura moral de um Vargas. Não esperemos dela qualquer gesto de desprendimento.
A utilização das estruturas de segurança do Estado e de seus mecanismos, pelo atual governo, para exercer chantagem e pressão política tanto contra adversários quanto para seus próprios integrantes, denunciados por mim quando da saída do governo, se alguém ainda tinha alguma dúvida, se comprovou agora. Essa prática, cuja existência tentei levar ao conhecimento da Governadora, levou à minha exoneração. Agora, sabe-se, que ela não apenas conhecia os fatos denunciados, mas fazia e faz uso dessas práticas. Por isso a tentativa inicial de desqualificar minhas denúncias. Por isso a tentativa de, mediante uma sindicância fraudulenta, buscar algo que pudesse colocar em dúvida minha conduta, minha dignidade pessoal e meu caráter.
Seria injusto negar que dentro do governo, e mesmo em sua base política de apoio, existem pessoas com grande qualificação moral, as quais têm evitado que tudo desabe como um castelo de cartas; temeroso de prejuízos à governabilidade, e esse é o seu principal equívoco. A cada dia são sufocados e arrastados pela devassidão dos ratos que se movimentam, abrigados pela impunidade, com cada vez mais desenvoltura. E com eles acabarão perecendo.
Enquanto isso, cercados pela omissão e pelo silêncio de tantos, perguntamos: Quousque tandem abutere, Yeda, patientia nostra?
Até quando?
(*) advogado
Publicado no Jornal Vale do Taquari, 24/07/2009.
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