O Exame Nacional que visa indicar os alunos aptos a frequentarem a universidade tem sido fonte de boas polêmicas nos últimos dois anos. Entretanto, é possível que alguns aspectos não tenham recebido a devida atenção.
Em 2009, após o escândalo do vazamento da prova a dois dias de sua aplicação, em segunda data, teve um de seus maiores testes – a redação – versando sobre si mesma: ética e corrupção. A própria prova era reflexo da falta da virtude na sociedade atual.
Um ano após, vem outra vez o ENEM demonstrar, nitidamente, outro aspecto da realidade vivida. Basta pensar: quem são os estudantes/candidatos ali sentados por horas a fio, tentando resolver da forma mais adequada as 180 questões objetivas, além da elaboração de um texto, nas tardes de sábado e domingo? Jovens e trabalhadores em busca de uma graduação universitária para chegar a melhores condições de trabalho e salário.
Observe-se, então, o outro lado: quem eram as pessoas que possibilitaram a realização do exame, nas diversas instituições onde o mesmo fora aplicado? Professores com curso superior, em grande número com especialização, trabalharam durante o fim de semana, no mês de novembro, durante oito ou nove horas de cada dia. Seriam esses trabalhadores, voluntários? NÃO! Esses profissionais são educadores, na maioria professores, no final de mais um ano letivo, que empenharam seu período de descanso, abdicaram do convívio com a família, de suas horas de lazer, em troca de um “extra” no valor de R$65,00 por dia.
Este é o retrato mais perfeito do descaso dos governos com a educação; da falta de investimentos nesta área; dos salários indignos que o professor – profissional que oportuniza a existência de todos os demais – recebe. Ou alguém supõe que essas pessoas todas trabalharam no final de semana apenas para não ficar em casa? Quiçá, por diversão?
Para completar, o tema da redação não poderia ser mais adequado: “O trabalho na construção da dignidade humana”. Para apoio, dois textos: um que versava sobre a época da escravidão; outro que tratava do trabalho no futuro, com uma boa dose de machismo, além da indicação da perda de direitos trabalhistas num futuro bem próximo. Em cada sala de aula, dois escravos contemporâneos que recebem, mensalmente, salários e tratamentos indignos tanto dos governos quanto da sociedade em geral.
O que se pode esperar do futuro da educação num país que trata mal seus educadores? Que interesse pode-se exigir dos jovens que vivenciam essas situações de desrespeito? Como se pode explicar que o estudo é a melhor herança que se deixa aos filhos?
Enquanto os princípios básicos da população não forem tratados com dignidade – leia-se saúde, educação, moradia, segurança, trabalho e lazer – não haverá uma sociedade livre das drogas, do tráfico, da violência, da barbárie que é mostrada diariamente em todos os veículos de comunicação.
Ora, mas a 8ª economia mundial participa do encontro anual do G20.
Eunice Couto
Professora Estadual
Em 2009, após o escândalo do vazamento da prova a dois dias de sua aplicação, em segunda data, teve um de seus maiores testes – a redação – versando sobre si mesma: ética e corrupção. A própria prova era reflexo da falta da virtude na sociedade atual.
Um ano após, vem outra vez o ENEM demonstrar, nitidamente, outro aspecto da realidade vivida. Basta pensar: quem são os estudantes/candidatos ali sentados por horas a fio, tentando resolver da forma mais adequada as 180 questões objetivas, além da elaboração de um texto, nas tardes de sábado e domingo? Jovens e trabalhadores em busca de uma graduação universitária para chegar a melhores condições de trabalho e salário.
Observe-se, então, o outro lado: quem eram as pessoas que possibilitaram a realização do exame, nas diversas instituições onde o mesmo fora aplicado? Professores com curso superior, em grande número com especialização, trabalharam durante o fim de semana, no mês de novembro, durante oito ou nove horas de cada dia. Seriam esses trabalhadores, voluntários? NÃO! Esses profissionais são educadores, na maioria professores, no final de mais um ano letivo, que empenharam seu período de descanso, abdicaram do convívio com a família, de suas horas de lazer, em troca de um “extra” no valor de R$65,00 por dia.
Este é o retrato mais perfeito do descaso dos governos com a educação; da falta de investimentos nesta área; dos salários indignos que o professor – profissional que oportuniza a existência de todos os demais – recebe. Ou alguém supõe que essas pessoas todas trabalharam no final de semana apenas para não ficar em casa? Quiçá, por diversão?
Para completar, o tema da redação não poderia ser mais adequado: “O trabalho na construção da dignidade humana”. Para apoio, dois textos: um que versava sobre a época da escravidão; outro que tratava do trabalho no futuro, com uma boa dose de machismo, além da indicação da perda de direitos trabalhistas num futuro bem próximo. Em cada sala de aula, dois escravos contemporâneos que recebem, mensalmente, salários e tratamentos indignos tanto dos governos quanto da sociedade em geral.
O que se pode esperar do futuro da educação num país que trata mal seus educadores? Que interesse pode-se exigir dos jovens que vivenciam essas situações de desrespeito? Como se pode explicar que o estudo é a melhor herança que se deixa aos filhos?
Enquanto os princípios básicos da população não forem tratados com dignidade – leia-se saúde, educação, moradia, segurança, trabalho e lazer – não haverá uma sociedade livre das drogas, do tráfico, da violência, da barbárie que é mostrada diariamente em todos os veículos de comunicação.
Ora, mas a 8ª economia mundial participa do encontro anual do G20.
Eunice Couto
Professora Estadual
Pelotas
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